quinta-feira, 23 de abril de 2009

NELMA


Há alguns anos atrás fui pastor da Igreja Presbiteriana de Campos, esta igreja fica as margens do Rio Paraíba. Havia uma visão linda ao entardecer que encantava qualquer pessoa, principalmente quando o vento soprava com vontade, levando algumas folhas e desgrenhando os cabelos. Foi em uma destas tarde de domingo, no horário de verão, que me lembro de uma pessoa muito querida falando sobre a beleza do entardecer e o vento a soprar e bagunçando meu cabelo. Não quero falar do vento, nem da igreja, nem do rio, quero me lembrar desta pessoa, seu era Nelma, mulher culta, professora aplicada, mãe incansável e crente fiel. Como mulher culta, tinha assunto para conversar sobre tudo, sempre pontuada pelo bom senso e um excelente português, linguagem culta, mulher que sempre estava lendo algum tipo de assunto, sempre informada. Como professora não acompanhei bem, mas não tenho dúvida de que era muito aplicada isto pelos comentários que ela mesma fazia e alguns dos que viveram perto dela. Como mãe incansável eu presenciei momentos de dedicação aos filhos Isabele e Marcelo, sempre orando por eles e os acompanhando. Lembro-me dos telefonemas dela para minha casa pedindo oração por Marcelo, falando das dificuldades na faculdade de Isabele. Isabele fazia medicina, sabe lá o que é uma professora do Estado do Rio de Janeiro pagar uma faculdade particular medicina? Durante o tempo em que Isabele estudou a Nelma não comprou nem um chinelo para ela própria, tudo era em função da Faculdade, valeu a pena a Isabele hoje é a Doutora Isabele, médica respeitada por sua competência, integridade e honestidade, mulher bonita, inteligente e aplicada.
Quando sai ou melhor, fui tirado da igreja de Campos, quando aqueles que diziam ser minhas ovelhas me abandonaram Nelma e Isabele nunca nos deixaram, me lembro certa vez, quando estava fazendo aniversário de casamento, no dia 14 de março de 2004, bateram palmas na porta de minha casa e para minha surpresa, lá estavam Nelma e Isabele, com um delicioso lanche e um bolo para mim e minha esposa Eloína. Houve uma semana que ela ligou todos os dias para minha casa para saber como estávamos ela nunca nos abandonou,esta mulher entendeu e colocou em prática em sua vida o que Jesus ensinou enquanto esteve aqui, amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo a si mesmo. Nelma nunca tirou o cisco do olho de ninguém e muito menos pensava que a igreja era uma sociedade construída por “santos”, mas sim que Jesus não veio para os sãos, mas para aqueles que são humildes de coração e carentes da glória e presença de Deus, por isso Nelma não criticava, não julgava e nem sentenciava, NELMA AMAVA.
Na Igreja de Campos ela nunca foi uma mulher líder, chegava sentava em seu banco, anotava minhas mensagens, orava pela igreja, cantava no coral e tinha uma voz linda. Era uma mulher crente, não precisava de cargos para aparecer, aparecia por ser a nossa Nelma.
Ano passado o senhor chamou a Nelma, vítima de um câncer avassalador e nas minhas indagações fiquei a pensar como uma pessoa tão boa pode morrer assim, tão de repente e tão nova. Meu filho quando era pequeno dizia te tem gente que não vai morrer nunca, vai viver para sempre e muitos anos, em sua cabeça infantil ele chegou à seguinte conclusão: Nem Deus nem o diabo querem certas pessoas portanto não há lugar para elas no céu ou inferno, enquanto isto eles ficam na terra perturbando os outros.
Nelma pode ver o fruto do seu penoso trabalho, a formatura de Isabele, ficando apenas a tristeza de Isabele não pode dar tudo o que sempre sonhou para sua mãe, mas uma coisa eu sei e tenho certeza, Isabele deu o maior presente a sua mãe que é o carinho e a dedicação, não só na enfermidade, mas muito carinho como filha amorosa. Tenho saudades de Nelma e hoje acordei pensando nela e por isto escrevi este artigo, só para lembrar um pouco de uma mulher crente, verdadeiramente crente.

Um comentário: